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ARTIGO

Janelas de oportunidades econômicas

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OPINIÃO

A verdadeira “tsunâmi tarifária” imposta ao mundo pelo presidente Donald Trump abre promissoras janelas de oportunidades econômicas para o Brasil em suas transações do comércio exterior.

A partir do dia 05 último, entrou em vigor a descomunal tarifação anunciada pela Casa Branca sobre as exportações de 185 parceiros comerciais dos EUA, com tarifas que variam de um patamar mínimo de 10%, chegando a 54% para alguns países. Ao colocar o Brasil na tarifa mínima de 10%, considerada neutra sob o aspecto do comércio exterior, a nova política tarifária aduaneira americana cria, involuntariamente, boas possibilidades para o Brasil expandir mercados para as empresas brasileiras, aumentar suas exportações para parceiros comerciais com os quais já transaciona e deve acelerar a celebração do acordo comercial Mercosul-União Europeia, fato que vai beneficiar diretamente a economia brasileira.

Além das retaliações já anunciadas pela China, aquele país asiático deve reduzir drasticamente as importações de produtos agrícolas americanos, aumentando suas compras do agronegócio brasileiro. Como, aliás, já havia acontecido no primeiro mandato de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos quando sobretaxou as importações de produtos chineses. Em retaliação, o governo de Pequim aumentou as tarifas e barreiras aduaneiras sobre produtos americanos, reduziu compras de carnes, soja e milho e passou a comprar mais do agro brasileiro, tornando-se nosso maior parceiro comercial. Seis meses depois, os EUA foram forçados a firmar, às pressas, um acordo com os chineses, retirando a sobretaxação e combinando um pacto que previa elevadas cotas de compras de commodities agropecuárias americanas que os asiáticos nunca cumpriram e nada sofreram pelo descumprimento.

A União Europeia, além das sobretaxações recíprocas, deve acelerar acordos comerciais com outros continentes como parte da estratégia de enfrentamento à ameaça americana ao atual sistema internacional de comércio, construído a duras penas por décadas de aprimoramentos e complexas negociações comerciais e diplomáticas. Nesse contexto, o acordo comercial Mercosul/União Europeia surge como uma alternativa óbvia para manutenção do fluxo comercial e reduzir a dependência das compras americanas.

Formou-se um consenso entre analistas financeiros, grandes universidades americanas e consultorias que as medidas anunciadas pelo governo americano guardam um evidente desconhecimento macroeconômico e de relações internacionais, a partir do “fetiche da reindustrialização”. Como resultado, produzirão retração da economia do país, aumento da inflação e, por conseguinte, reduzirá a rentabilidade das empresas e a renda das famílias americanas. Em editoriais, os principais jornais americanos consideram que foi o maior ato de autossabotagem do país, já visto na história. Os grandes bancos americanos atualizaram suas projeções aumentando para 60% a possibilidade da economia dos EUA entrar em recessão em 2025/2026.

Em relatório distribuído a clientes, o IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), que reúne mais de 400 bancos e instituições do mundo, considera que as medidas aumentam exponencialmente as possibilidades de queda da atividade econômica americana e aumento da inflação pois encarecem insumos essenciais da indústria (aço, alumínio, cobre refinado, semicondutores, farmacêuticos, fertilizantes) e atingem todas as cadeias de suprimentos vitais para a produção doméstica americana.

A tarifa neutra estabelecida na nova política tarifária trumpista oferece ao Brasil um dos maiores impulsos ao seu comércio exterior. O país ainda pode se beneficiar do enfraquecimento do dólar, redução dos preços internacionais do petróleo e abertura de novos mercados para os produtos agropecuários como Vietnã, Japão, Indonésia. Além, naturalmente, de aumento das vendas para China e mercado europeu.

É muito provável que o presidente americano recuará da maior parte das mudanças tarifárias, pressionado pelos consumidores-eleitores, grandes corporações empresariais americanas e pelo resto do mundo. Considero completamente improvável o redesenho de todo o sistema de comércio internacional de forma unilateral. Uma arquitetura de comércio que começou a ser construído desde o final da segunda guerra mundial pelos maiores líderes políticos e empresariais do mundo civilizado O atual sistema de comércio exterior teve como principais arquitetos os estrategistas econômicos e geopolíticos americanos. A intensa expansão da comercialização de bens e serviços entre as nações é responsável por grande parte do enriquecimento dos EUA e contribuiu, juntamente com a industrialização e inovação tecnológica, para o país se tornar a maior economia do planeta.

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Onde está a lógica?

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Os jardins externos da Casa Branca, sede do governo norte americano, foi palco no último dia 02 de mais um capítulo da saga “como destruir as relações comerciais do mundo”, escrita, dirigida e interpretada pelo presidente Donald Trump. Dessa vez foi o anúncio de tarifas de importação dos mais variados produtos, e tinha de tudo, plateia, apoiador entusiasmado e até um flipchart moderno.

Para o Japão, veio uma alíquota de 24%, o que irá impactar diretamente no fornecimento de semicondutores e automóveis, tornando os produtos japoneses mais caros, mas também aumentará o custo de produção dos produtos produzidos na América, como carros e equipamentos eletrônicos. Já para a China, a nova taxa é de 34%, e os chineses já se manifestaram e recorreram à reciprocidade, também taxando as importações americanas nos mesmos 34%.

Na esperança de proteger o mercado americano dos produtos chineses, o presidente Trump jogou pesado e colocou em risco o setor agrícola norte americano, afinal metade da exportação de soja dos Estados Unidos tem como destino o mercado chines, sem falar do milho, da carne bovina e carne de aves. Para o Canadá a taxa será de 25%, e já que estamos falando de agricultura, cerca de 80% do potássio utilizado pelos Estados Unidos vem do vizinho Canadá.

Com base nos exemplos, fica claro uma coisa, o custo da produção agrícola na terra do Tio San ficará mais alto. Por outro lado, os produtos agrícolas exportados pela América ficarão chegarão aos destinos mais caros, isto é, se forem comprados. Agora imaginem, caso a China diminua a importação de soja dos Estados Unidos, como os chineses fariam para suprir a necessidade do grão para alimentar seu mercado interno? E mais, qual seria o impacto disso na produção de frango e suínos dentro da China?

E o Japão, de onde viria a carne bovina que hoje chega nas mesas dos japoneses com a bandeira americana? Isso sem falar da Índia, da União Europeia, da Rússia.

Ao que parece o governante recém eleito para governar a maior potência do mundo está decidido a bancar esse jogo, e ver até onde vai a dependência americana das relações comerciais, e como isso vai impactar para o dia a dia de seu povo, já que não podemos esquecer de que os americanos são extremamente consumistas, e uma coisa é certa como o dia de amanhã, os bens de consumo ficarão mais caros por lá.

Há quem diga que a recessão é uma questão de tempo, já que com produtos mais caros o consumo certamente diminuirá, e isso geraria uma ação em cadeia passando pela diminuição dos investimentos, do emprego e da renda, ou seja todos perdem.

Mas e o consumo mundial de alimentos, fibras e energia, também vai diminuir?

A resposta é não! A China continuará comprando soja, mas parte dela virá de outro lugar. O Japão continuará comprando carne bovina, mas de outro lugar.

E aí surge uma grande oportunidade para o Brasil, afinal somos grandes produtores agrícolas e não temos nada a ver com as ações anunciadas pelo presidente Trump, e como as ações têm consequências, o Brasil tem tudo para abocanhar parte desse mercado que certamente será perdido pelos Estados Unidos.

Só precisamos continuar fazendo o que sempre fizemos: semear a terra, colher e vender, e torcer para que a loucura e os loucos continuem bem longe daqui.

 

*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.

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