CUIABÁ

Artigo

Ele se abaixou

… mas Ele se abaixou e começou a escrever no chão com o dedo. João 8:6

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OPINIÃO

Diante de todas as acusações contra aquela mulher e de todas as barbáries feitas pelos acusadores, que eram até piores do que as daquela mulher, um fato me chamou atenção.

Jesus simplesmente poderia condená-los e nem dar atenção a eles, pois tais acusações tinham outras intenções não reveladas. Além disso, eles se achavam melhores do que aquela mulher.

O Mestre não se levantou ou subiu em um palco para chamar a atenção dos acusadores. Ele não se utilizou de toda a autoridade que lhe fora concedida. Ele não precisou provar o seu amor por nós.

Jesus se abaixou. Reflita sobre essa atitude do Mestre. Ele se abaixa, se curva, se humilha, se ajoelha. Nós devemos ter a humildade de Jesus como modelo em nossas vidas.

Ser humilde é estar acima da média. Jesus nos ensinou o poder da humildade.

Além de se abaixar, o Mestre não disse nada até aquele instante, apenas escreveu na areia os pecados cometidos por aqueles homens. Ele fica calado. Será que, diante das provocações que recebemos de nossos inimigos, não deveríamos ter a mesma atitude? Nos abaixar e não dizermos nada?

Nós sabemos que quando o clima está tenso e aflorado, com os envolvidos carregando uma carga emocional acima do tolerável, é preferível se abaixar e ficar em silêncio, aguardando o momento certo para verbalizar, de forma resumida, os seus pontos de vista.

Jesus se abaixou. Jesus se calou.

Jesus então resolveu falar usando Sua mente serena de um verdadeiro Mestre. Ele foi preciso, firme e contundente com as Suas palavras e de forma bem objetiva disse: “Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher!” João 8:7.

Após a mensagem do Mestre, os acusadores foram embora, pois sabiam que estavam equivocados e faziam o papel de pessoas hipócritas.

E o nosso Mestre, mais uma vez, voltou-se para o chão e continuou a escrever os pecados daqueles homens. Ele voltou à Sua situação anterior, e em silêncio ficou, até o clima tenso ser dissipado.

Jesus se abaixou, calou-se, e então falou. Esse é o verdadeiro tripé que Cristo ensina para cada um de nós hoje: que devemos ser humildes, que devemos ficar quietos diante de uma situação de conflito, que devemos falar de forma sábia, e, por fim, devemos voltar à nossa situação anterior, ou seja, estável e equilibrada.

*Francisney Liberato é Auditor do Tribunal de Contas. Escritor. Palestrante. Professor. Coach e Mentor. Mestre em Educação. Doutor Honoris Causa. Bacharel em Administração, Bacharel em Ciências Contábeis (CRC-MT) e Bacharel em Direito (OAB-MT). Membro da Academia Mundial de Letras. http://www.francisney.com.br

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OPINIÃO

O fulanismo na política

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A vespa pousou na cabeça de uma serpente, pondo-se a atormentá-la com seu ferrão. Louca de dor, não podendo defender-se de seu inimigo, a serpente meteu a cabeça debaixo da roda de um carro, morrendo junto com a vespa. Esopo mostra, nesta fábula, que certas pessoas não hesitam em morrer arrastando seus inimigos e, até amigos. Pois é isso que está ocorrendo na esfera política nacional.
Atores políticos do situacionismo e do oposicionismo estão se comportando como vespas e serpentes. Ao tentarem construir uma pira para queimar o nome de Flávio Dino, indicado por Lula para o STF, e ainda chamuscar a imagem do procurador Paulo Gonet, indicado para assumir a PGR, caracterizando-o como um conservador próximo ao bolsonarismo, senadores e grupos do próprio petismo colocam em combustão o tênue fio com que o presidente da República costura a teia de articulação com o Congresso.
Os dois indicados devem passar pelo crivo, mesmo sendo gravetos da fogueira que, de maneira cíclica, acende as tensões entre os três Poderes. O fato é que a crise crônica da política se alimenta de tensões fabricadas por uns e outros com o intuito, quase sempre, de ganhar dividendos. E tem como origem a fulanização da política, a personalização do poder, o vedetismo midiático, que esvaziam o debate político da força das ideias, substituídas pela expressão particularizada.
A luta política no Brasil reduz-se a uma rivalidade entre pessoas e grupos. Lula, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Luis A.Barroso, Arthur Lira, Rodrigo Pacheco, Fernando Haddad são, entre outros, os protagonistas que ocupam imensos espaços na mídia, a atestar a fulanização da política e da justiça. O Judiciário fulanizado? Pois é o que temos.
Afinal, onde estão as ideias, os programas, a doutrina, a substância? Será que a política é apenas uma luta de tele-catch? Ou um passeio no lago de Narciso? Os atores se enrolam no teatro do falso retrato, da autocontemplação, que mostra como os homens públicos se banham nas águas de Narciso, aquele que foi condenado pelos deuses a se apaixonar pela própria imagem. Como conta a lenda, ele tomou-se de amores pela imagem quando se contemplava nas águas transparentes de uma fonte. Obcecado pelo reflexo, Narciso não mais se afastava da fonte, definhando ali até a morte.
O Brasil está recheado de narcisistas, pessoas fascinadas pelo seu próprio brilho, um brilho ilusório, porque muitas perdem o poder, mas não o orgulho. Que tipo de mal os narcisistas cometem contra si mesmos e contra a sociedade? O maior dos males é o da inação, o da inércia, o da perda do senso. Presos no simulacro do poder, exibem um prestígio falso, que frequentemente conduz ao ócio. Aliás, praestigium, do latim, significa nada mais nada menos que artifício, ilusão, malabarismo. Os malabaristas da política desempenham a peça da mistificação das massas, fazendo-as crer que o discurso é a ação, o verbo é a promessa, a palavra que vale é a sua.
O convívio intenso e longo com o poder tem um poderoso efeito narcotizante. Transforma seres mortais, pessoas simples e humildes, gente com histórias iguais a de seus semelhantes, em “deuses” de um Olimpo cada vez mais povoado. A que se deve esse tipo de distorção? Às nossas heranças culturais. Entre as quais, a tradição da oralidade. Que penetrou profundamente nas veias, mentes e corações da representação política, a ponto de se atribuir, por muito tempo, a grandeza dos homens públicos não aos projetos e feitos empreendidos, mas ao domínio do verbo no palanque ou na tribuna parlamentar.
Duas historinhas, muito conhecidas, mostram os dois pólos do discurso tradicional da política. A primeira é a do baiano, embevecido com a retórica complicada, cheia de palavras difíceis, do candidato em comício em uma cidade interiorana. Não se cansou de bater palmas, concluindo categórico: “não entendi nada do que o homem falou, mas falou bonito; vai levar meu voto”. A segunda historinha é a do candidato a deputado, que, arrebatado, enérgico, espumando de civismo, discorria sobre o sentido da liberdade. Argumentava que um povo livre sabe escolher os seus caminhos, seus governantes, eleger os seus deputados. Para entusiasmar a multidão, levou um passarinho numa gaiola, que deveria ser solto no clímax do discurso.
No momento certo, tirou o passarinho da gaiola, e com ele na mão direita, jogou o verbo: “a liberdade é o sonho do homem, o desejo de construir seu espaço, sua vida, com orgulho, sem subserviência, sem opressão; Deus (citar Deus é sempre bom) nos deu a liberdade para fazermos dela o instrumento de nossa dignidade; quero que todos vocês, hoje, aqui e agora, comprometam-se com o ideal do homem livre. Para simbolizar esse compromisso, vamos aplaudir soltar esse passarinho, que vai ganhar o céu da liberdade”. Ao abrir a mão, viu que esmagara o passarinho. A frustração por ter matado o bichinho acabou com a euforia e as vaias substituíram os aplausos. Foi um desastre. É sempre assim quando não se controla a emoção. Em se tratando do discurso político, a emoção mata a razão.
O narcisista e o demagogo, o verborrágico e o reizinho cheio de empáfia, são dois tipos comuns às massas. O encontro do ruim com o pior, de Narciso com Justo Veríssimo, canhestro personagem de Chico Anísio, é um traço perverso de nossa seara política.
*Gaudêncio Torquato é escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político

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